Teatro de sombras

O teatro de sombras nasceu no Oriente. Registros antigos, datados de mais de 2500 anos, apontam a Índia e a China como nascedouro desse teatro. Além desses dois países, registros também antigos foram encontrados na Tailândia, Taiwan e Grécia. Contudo, independente do país de origem, foi no Oriente que o teatro de sombras desenvolveu toda a sua complexidade técnica, tendo como base a ilusão de independência da sombra, a possibilidade do encanto e a leveza proveniente da precisão da manipulação.
A primeira expressão não-religiosa desse teatro surgiu na cidade de Bursa, no noroeste da Turquia, no século XIII, denominado teatro de Karagöz, um teatro de características satíricas que rapidamente difundiu-se pelos países islâmicos, tentando burlar, ainda que precariamente, a desconfiança de algumas leituras do Alcorão em relação à representação dos humanos e dos animais. Seus textos, disfarçados por uma aparência de inocência e por um humor grotesco, tecia críticas ácidas à sociedade de sua época, numa espécie de teatro político-social. O personagem Karagöz, cujo nome pode ser traduzido como homem de olhos negros (do turco göz, olho, e de kara, negro), era impulsivo, intuitivo e inculto; características que faziam dele um símbolo das forças vitais da sociedade, sendo um personagem-síntese de anseios e temores das classes populares.

Um clássico espetáculo Karagöz 
No teatro de sombras oriental, podemos ver uma diferença estética entre os modelos de bonecos. Diferença que se manifesta também na forma de manipulá-los. As sombras chinesas são as que possuem mais articulações, consequentemente, mais varetas, podendo ser manipuladas por uma ou até quatro pessoas.

No Teatro de sombras da Índia, Indonésia e Java o espetáculo é realizado à noite, ao ar livre, fazendo uso de um palco fechado iluminado por lâmpadas de óleo que geram uma luz oscilante que por si só adiciona grande expressividade ao espetáculo. As figuras são grandes e translúcidas, feitas de pele de animais, sustentadas a partir de baixo por uma vareta vertical. Seus bonecos possuem articulações nos braços e nalguns casos nas pernas e sua atuação baseia-se fundamentalmente na impressão da ação e não no preciosismo da manipulação. Nos bonecos sem articulação, a expressão é manifesta pela própria grafia do boneco. O mesmo acontece com os bonecos da Turquia. Contudo, devido à diferença na dramaturgia, as sombras turcas são mais expressivas, contendo articulações nos braços ou nos quadris que enfatizam o caráter irreverente dos personagens.

A partir do século XVIII, provavelmente pela mão dos Jesuítas, o teatro de sombras foi trazido para o Ocidente, mais especificamente para a Europa Ocidental, Itália e França. Com o passar do tempo a sua estética transformou-se, e quando do seu encontro com a fotografia, a cinematografia e toda a curiosidade relativa aos fenómenos luminosos no século XIX, esse espetáculo da imagem abriu-se para novas e particulares poéticas, o que lhe permitiu tanto uma dramaturgia fantástica quanto realista. No teatro de sombras francês, podemos destacar dois períodos. O primeiro refere-se ao Teatro Séraphin, de meados do século XVII, que dirigiu o primeiro espetáculo formalmente direcionado ao público infantil no ocidente: o Spectacle des Enfants de France. O segundo com o Chat Noir, um cabaré situado no bairro boêmio de Montmartre, em Paris, que tornou célebre as performances do Teatro de Sombras no final do século XIX, dirigido principalmente ao público mais intelectualizado, o que deslocou o centro desse teatro da manipulação para o texto. A própria imagem, não sendo articulada, fazia com que as cenas fossem construídas com uma grande variedade de silhuetas, de forma que cada uma delas carregasse em si a cristalização de uma cena, como podemos notar na imagem abaixo. Esse passou a ser um referencial forte para as companhias de teatro ocidentais, que investiram em silhuetas expressivas em detrimento de muitas articulações.

Nas últimas décadas, devido à inserção de novas tecnologias, muitas companhias de teatro romperam com o já citado anonimato do(a) animador(a), trazendo-o para o centro da cena, mas preservando a fantasia, por meio da introdução de técnicas provenientes de outras linguagens teatrais. Nessa nova forma de animar sombras, tanto o ator quanto a plateia estão no mesmo lado da tela, permitindo interações não possíveis no outro método.

O teatro de sombras do Chat Noir
Fabrízio Montecchi, do Teatro Gioco Vita 
Exemplo da grafia dos bonecos Wayang, tradicionais da Indonésia.
Exemplo da grafia dos bonecos chineses.

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